O Mês do Orgulho é um momento para celebrar as comunidades LGBTQIA+ ao redor do mundo e continuar a luta por igualdade, equidade e justiça. Este ano, celebramos #EverydayPride, fazendo um convite à reflexão sobre como podemos criar espaços onde falar abertamente sobre quem somos e como vivenciamos a vida de formas diferentes seja parte da nossa cultura. 

Rafael Franco é Executivo de Contas Sênior na Edelman Brasil, atuando com marcas dos setores de turismo e entretenimento.  


1. O que significa #Everyday Pride para você?
Ter orgulho todo dia, especialmente quando falamos do mercado de trabalho, é trazer todas as suas vivências como indivíduo também para a sua rotina profissional, sem precisar esconder as suas características em relações com colegas, superiores ou com clientes e fornecedores, sabendo que a empresa vai te dar suporte caso algo aconteça. Em um mundo tão diverso, situações discriminatórias ainda são bastante comuns. É poder ter orgulho de ser quem se é todos os dias, com um ambiente inclusivo e a segurança de ter o apoio em comunicações externas, sem que isso afete o desenvolvimento de carreira ou a rotina de trabalho.

2. Em sua opinião, aliados não LGBTQIA+ compreendem inteiramente os obstáculos enfrentados pela comunidade? Como é possível aumentar essa conscientização?
Por mais que pessoas aliadas sejam bastante empáticas em tentar entender as vivências da comunidade LGBTQIA+, é muito difícil que tenham total compreensão dos obstáculos porque há nuances sutis, como micro agressões, intencionais ou não, que não são percebidas, em sua maioria, por pessoas que não vivem isso diariamente. O letramento sobre estes obstáculos – fundamental, mesmo que não seja suficiente por si só – pode ser feito em conversas de escuta ativa com membros da comunidade, com os inúmeros conteúdos disponíveis em sites e redes sociais, leitura aprofundada de matérias ou livros sobre o tema, além de engajamento real e integral em atividades corporativas que se proponham a aprofundar as conversas.

3. Você pode compartilhar algum exemplo positivo de práticas no ambiente de trabalho que realmente apoie os colaboradores LGBTQIA+?
Tornar o ambiente de trabalho diverso, equânime, inclusivo e que promova o pertencimento para a comunidade LGBTQIA+ passa por diversas camadas. A representatividade é a primeira delas. Se vemos essas pessoas em cargos de liderança, é mais fácil conseguir se projetar tendo esta oportunidade no seu futuro. Se convivemos com pessoas trans no nosso dia a dia, conheceremos, na prática, estas vivências. Além disso, é importante que as políticas das empresas considerem a equidade, oferecendo benefícios específicos para que todos tenham a mesma oportunidade. Por exemplo, a licença maternidade dá liberdade para que as mães se dediquem aos seus bebês no início de vida, mas a criança com dois pais deve ter a mesma oportunidade de ter seus primeiros meses com este amor mais próximo. É importante também que colegas busquem informações e se dediquem, de fato, a entender essas vivências, não só pensando que é legal ter “um grupo de diversidade”, mas se engajando de fato, para que o ambiente seja inclusivo e de pertencimento.

4. Diga algo sobre o Mês do Orgulho que te traga felicidade. Tem algum evento ou atividade que você esteja planejando participar esse ano?
Me deixa muito feliz quando as empresas, em geral, se engajam com as questões LGBTQIA+ como uma defesa de marca o ano todo, não somente em um mês do ano, alterando seu logotipo temporariamente para contemplar as cores do arco-íris e pensando em ações comerciais. O mês é importante para aumentar a conscientização, mas as iniciativas que transformam devem ocorrer o ano todo para trazer coerência ao discurso. E em junho, essas discussões ganham espaço e visibilidade, com uma pressão da comunidade – especialmente nas redes sociais – para que não sejamos esquecidos na mudança do mês. Eu participei de duas atividades organizadas pela ONG Parada SP neste ano. Além da Parada do Orgulho LGBTQIA+ de São Paulo, que é considerada a maior do mundo, participei da Feira Cultural da Diversidade LGBT+ para prestigiar o evento e o lançamento do livro “Diversidade e Inclusão e suas dimensões Volume II”, o qual recomendo a leitura para quem se interessa pelo assunto, com dicas também do mercado corporativo com diversos especialistas celebrados como coautores.

5. Como você celebra sua identidade diariamente?
Em 2014, eu comecei um trabalho de celebração pública da minha identidade quando “tirei do armário” o Viaja Bi!, que foi o primeiro blog de viagem LGBTQIA+ do Brasil. Nestes quase 10 anos, aprendi muito sobre o assunto, me envolvi em ações em prol da comunidade e inseri isso como parte da minha vivência. Esse período foi quando eu entrei na Edelman, então, pude trazer essa experiência para o trabalho. Com isso, me envolvi em projetos globais, como co-host do podcast “Authentic 365” e em conselhos regionais e globais de DEIB, além de ajudar a recriar o grupo de trabalho com este foco no Brasil. Com clientes, também tive oportunidades de aplicar meus conhecimentos para transformar, seja em ações potentes, como ativações para empregabilidade trans ou em detalhes mais sutis como uma linguagem inclusiva na comunicação da marca, excluindo o plural mandatoriamente masculino, sem mudar as regras da língua. São coisas que, para mim, são naturais do dia a dia, mas que, olhando para trás, me permitiram e me permitem celebrar minha identidade, meu orgulho e transformar o mundo.

6. Qual conselho você daria para jovens da comunidade que estão começando sua carreira?
Quem chega hoje ao mercado de trabalho, encontra um ambiente muito diferente do que há poucos anos e é muito fácil tomar essas conquistas como garantidas. Mesmo fora do mercado de trabalho, há jovens que não entendem mais como necessária a luta constante. Mas vimos recentemente no Brasil que é muito simples que direitos dados possam correr risco de serem retirados, caso não estejam garantidos em lei. Então, é importante honrarmos e celebrarmos quem pavimentou o caminho para a gente e não baixar a guarda. E a maneira mais simples de fazer isso, e que esta geração que está começando agora sua carreira faz com maestria, é viver sua vida, dentro ou fora do trabalho, como se é, sem a rigidez dos rótulos e tendo seus princípios acima de tudo. É extremamente importante sermos flexíveis, mas mantendo nossa essência e nossas verdades. É isso que causa mudança no mundo corporativo. Meu conselho é respeitar o que foi entregue e se tornar responsável pelos próximos passos.