Criptomoedas, blockchain, gamificação, nuvem, Internet das Coisas, 5G, wearables, NFT, Metaverso, Inteligência Artificial, Realidade Mista. O setor de tecnologia é um dos grandes patronos de inovação e, muitas vezes, é difícil para as pessoas, especialmente para os leigos, acompanhar a avalanche de termos e tendências que invadem a mídia e que, aos poucos, começam a impactar suas vidas.
O mesmo acontece para as marcas e empresas. É papel do consultor de comunicação, especializado em tecnologia, olhar para além da tendência e avaliar se a sua adoção é pertinente para aquele negócio, de que forma e a partir de quando. Só um especialista é capaz de gerenciar o impulso de querer sair na frente, de fazer parte, sem que o todo seja avaliado – afinal, novidades trazem oportunidades, mas também há riscos que devem ser considerados.
Popularizar ou disseminar tendências sem a compreensão de seu contexto, aplicação e impacto na vida do público é um caminho perigoso que traz riscos, inclusive, para a reputação e confiança de marcas e empresas. Comunicadores devem sempre estudar as demandas e valores do público a ser impactado por determinada ação ou comunicação, os dados factuais por trás de cada ação ou produto e entender que, em geral, quando se trata de tecnologia, as dinâmicas são complexas.
Nos últimos anos, o estudo global Edelman Trust Barometer tem apontado que o setor de Tecnologia é o mais confiável da economia. Mas, ainda assim, diversos mercados vêm as novas tecnologias com o pé atrás — e para isso há explicações. Levanto aqui algumas reflexões:
- O público está cada vez mais vigilante e crítico em relação à atuação das instituições, demandando que empresas solucionem problemas em que sentem que a atuação governamental é insuficiente, além de apoio aos trabalhadores, suas famílias e comunidades em que atuam. Vemos uma crescente de movimentos sociais utilizando boicotes, protestos e outras ferramentas democráticas para cobrar de empresas e governos por seus direitos sociais, saúde, educação e melhores condições. O desafio é trazer a tecnologia para benefício do público, garantir sua segurança contra criminosos e mau uso, e demonstrar os benefícios para todos e não apenas para os acionistas.
- A maior preocupação do público, de acordo com o Trust Barometer, é a perda do emprego, e é inegável que o modo de operar de alguns aplicativos se tornou central na discussão entre benefícios ao consumidor versus precarização do trabalho. Além disso, mais recentemente, temos visto a popularização da gamificação e monetização de hábitos do consumidor: assista vídeos e ganhe dinheiro, entre todo dia para ganhar, jogue e ganhe descontos/brindes, etc. Essas práticas geram novas discussões que vão desde ser uma renda extra para o público e meros benefícios ao consumidor a até mesmo acusações de exploração de mão-de-obra gratuita. É importante entender a tecnologia em um ecossistema amplo, não apenas a partir do ponto-de-vista do cliente ou do negócio.
- A segunda maior preocupação das pessoas, ainda de acordo com o estudo, é a crise climática. No Brasil, apenas ONGs são consideradas confiáveis para atuar em reparação a essa questão, o que demonstra o espaço de confiança que ainda precisa ser conquistado por governos, mídia e empresas. É importante ter embasamento em dados, mas também demonstrar com ações que suas práticas são ou estão se tornando mais sustentáveis. A mera comunicação de intenção ou iniciativas pontuais são rebatidas com apelos populares sobre greenwashing, contestação de conflitos de interesse ou contradições. Se o setor de Tecnologia tem a maior confiança e reputação em inovar, também é maior a expectativa que ele traga soluções reais, aplicáveis e eficientes, para este tipo de desafio global tão rápido quanto lança novos produtos e serviços.
O papel do consultor de comunicação especializado em tecnologia não é vender ou simplesmente repassar discursos prontos das grandes novidades, mas entender a fundo cada tendência tão logo ela comece a ser discutida no contexto daquela marca ou empresa e no ambiente em que ela está inserida. Qual relevância das novas tecnologias para as marcas? E para os consumidores? O que ela representa para a sociedade? É preciso curiosidade para aprender constantemente, sem preconceitos ou vieses, e coragem para realizar o trabalho de maneira assertiva e ética.
Monica Czeszak é gerente de contas na área de tecnologia