Brasileiros estão mais confiantes nas instituições

Apesar do sentimento, população teme os avanços da tecnologia, o futuro do trabalho, as fake news e a falta de capacidade dos governantes de lidar com esses desafios

SÃO PAULO, 06 DE ABRIL DE 2020 – O estudo global Edelman Trust  Barometer 2020 revela que a confiança subiu em todas as instituições no Brasil. Considerando o público total, a confiança aumentou 9 pontos no Governo (agora com 37%); 6 nas Empresas (64%); 3 na Mídia (44%) e 2 nas ONGs (59%). Com isso, o índice geral (51) saltou 5 pontos, tirando os brasileiros da condição de “desconfiados” e os posicionando como “neutros” – o que não ocorria desde 2016. Das quatro instituições, no entanto, apenas as Empresas são consideradas confiáveis pelos brasileiros – as ONGs são neutras e a Mídia e o Governo são classificadas pelos respondentes como não confiáveis. Vale ressaltar ainda que há uma diferença de 11 pontos no nível de confiança entre a população geral (49) e o público informado (60), mostrando um país dividido pela desigualdade.

Realizado pela Edelman, agência global de comunicação, o estudo, que completa duas décadas neste ano, ouviu mais de 34 mil pessoas em 28 países, com o trabalho de campo realizado entre 19 de outubro e 18 de novembro de 2019.

Apesar do aumento da confiança, o estudo mostra que os brasileiros estão preocupados com o futuro. Oitenta e seis por cento dos entrevistados no Brasil têm medo de perder o emprego, especialmente por falta de qualificação e competência (68%), da recessão iminente (67%) e da economia baseada em mão de obra freelancer (64%). Além disso, 69% afirmam que o ritmo das mudanças tecnológicas está rápido demais e 75% acreditam que o governo não entende as tecnologias emergentes o suficiente para regulamentá-las bem. A qualidade das informações também tira o sono dos brasileiros, com 64% preocupados que a tecnologia torne impossível saber se o que as pessoas veem ou ouvem é real.

Uma maior confiança está ligada à competência e ética das instituições. O Edelman Trust Barometer 2020 revela que, na construção da confiança, as instituições devem levar em conta não apenas o que fazem, mas como fazem. Essa conclusão é reforçada pelo Edelman Trust Management, ferramenta que monitora os índices de confiança de empresas em tempo real. Ao analisar 40 companhias globais no último ano, constatou-se que fatores relacionados à ética (integridade, propósito e confiabilidade) geram 76% da confiança de uma empresa, enquanto a competência responde apenas por 24%.

No Brasil, nenhuma instituição é vista como competente e ética ao mesmo tempo: as ONGs são consideradas éticas; as Empresas são consideradas competentes e o Governo e a Mídia, nem competentes, nem éticos. “Sendo a única instituição vista como competente, as empresas têm oportunidades e responsabilidades de agir como catalisadoras de mudanças. Na visão dos entrevistados, elas precisam valorizar mais seus públicos de relacionamento, como clientes, empregados e comunidades, e promover iniciativas além do lucro”, diz Ana Julião, gerente geral da Edelman Brasil. No Brasil, 92% das pessoas acreditam que esses públicos são mais importantes do que os acionistas para o sucesso da companhia no longo prazo.

Com as empresas no papel de protagonistas, os CEOs devem ser a força motriz desse movimento. Noventa e quatro por cento dos brasileiros acreditam que é importante que o CEO da empresa que os empregam pronuncie-se sobre uma ou mais questões como: formação para o trabalho do futuro (89%), impacto da automação no trabalho (87%), utilização ética da tecnologia (87%), diversidade (82%) e desigualdade de renda (81%). Para 74% dos brasileiros, 14 pontos a mais do que 2018, os CEOs devem liderar movimentos de mudança em vez de esperar que o Governo as imponha. “Para gerar confiança, as empresas devem focar na educação e na formação de seus empregados e fazer parcerias com as demais instituições para atender às necessidades da sociedade de uma forma mais ampla”, conclui Ana Julião.


Outros destaques do Edelman Trust Barometer 2020 no Brasil:


- Para 57% das pessoas, o capitalismo da forma que existe hoje faz mais mal do que bem.
- 70% acreditam que eles e suas famílias estarão melhores em cinco anos (contra 74% no ano passado)
- As empresas familiares (71%) são mais confiáveis do que as privadas (68%), públicas (65%) e estatais (41%).
- A confiança caiu em todos os setores da economia, com destaque para Transporte (55%), Educação (60%), Moda (64%), Bens de Consumo (65%) e Alimentos e Bebidas (72%) – todos perderam 6 pontos em relação ao ano anterior.
- A Marca Brasil (37%) continua sendo uma das mais mal avaliadas do mundo, à frente apenas do México (33%) e atrás de China (38%) e Índia (38%).
- Na visão dos brasileiros, as mídias mais confiáveis são as plataformas de busca (70%), mídias tradicionais (56%) e mídias próprias (54%).
- A figura do Meu Empregador (80%) continua mais confiável do que qualquer uma das instituições, com 3 pontos a mais do que no ano anterior.
- No Brasil, os porta-vozes mais confiáveis são “uma pessoa como você” (77%), especialista técnico da empresa (75%) e especialista acadêmico (73%) e os menos críveis são autoridade do governo (27%), jornalista (38%) e representante de ONG (44%).


Sobre o Edelman Trust Barometer
O Edelman Trust Barometer 2020 é a 20ª edição do estudo anual de confiança e credibilidade. A pesquisa foi desenvolvida pela empresa de pesquisa Edelman Intelligence por meio de entrevistas on-line de 30 minutos, realizadas entre 19 de outubro e 18 de novembro de 2019, em 28 mercados. A pesquisa on-line do Edelman Trust Barometer 2020 teve uma amostra de mais de 34.000 entrevistados, sendo 1.150 da população geral e 200 do público informado em cada mercado, exceto China e EUA, que teve uma amostra de 500 entrevistados do público informado cada. Todos os entrevistados do público informado atenderam aos seguintes critérios: faixa etária entre 25 e 64 anos, formação universitária, estar entre os 25% de maior renda familiar por grupo etário de cada país, relatar consumo significativo de mídia e engajamento com notícias sobre políticas públicas e negócios.