O Edelman Trust Barometer 2020 Update: Confiança e a pandemia de Covid-19 revela uma grande mudança no cenário da confiança desde janeiro. Essa atualização do estudo demonstra que a confiança no governo sofreu um aumento de 11 pontos, atingindo a média global de 65% e tornando o governo a instituição mais confiada pela primeira vez em 20 anos de estudo.
Apesar do crescimento de quatro pontos na confiança em empresas e diversas ações realizadas por companhias e CEOs para ajudar aqueles que precisam, há uma forte decepção em relação a como o setor privado está agindo durante a crise.
Uma mudança na confiança: governos assumem a liderança
Desde 2011, o governo caiu para o nível de desconfiança globalmente, por conta do impasse na União Europeia sobre a dívida grega e diversos escândalos de corrupção em países em desenvolvimento. Essa atualização do Edelman Trust Barometer 2020 demonstra o forte retorno do governo: com 65% de confiança (11 pontos a mais desde Janeiro), o público está confiando nos governos para protege-los de uma forma não vista desde a Segunda Guerra Mundial. A confiança no governo não só teve um aumento de dois dígitos em 6 dos 11 mercados estudados, como também é a única instituição confiada pelo público geral (62%).
Durante um período sem precedentes, em que a resposta dos governos em todos os níveis pode significar a diferença entre a vida e a morte, o público está depositando sua confiança no governo para liderar a luta contra o vírus. De fato, o público espera que o governo esteja na linha de frente de todas as áreas de resposta à pandemia: proporcionando alívio econômico (86%), retomando o país a normalidade (79%), contendo a Covid-19 (73%) e informando o público (72%).
Medos da sociedade
Apesar da alta confiança no governo, a pandemia parece ter destacado a desigualdade sistêmica. O Edelman Trust Barometer 2020 em Janeiro demonstrou que o crescente sentimento de injustiça no sistema estava gerando desconfiança nas instituições. Essa atualização do estudo demonstra que 67% dos respondentes acreditam que aqueles com menos acesso à educação, menor renda e recursos estão carregando um fardo desproporcional em relação ao sofrimento, risco de contágio e precisam se sacrificar mais diante da pandemia. Além disso, mais da metade dos respondentes se mostra muito preocupada que, a longo prazo, a crise gere perda de empregos.
Um papel essencial para mídia e ONGs
A busca por informação confiável em relação a pandemia tem proporcionado um aumento na confiança em notícias. Mídias tradicionais (+7 pontos) e canais proprietários (+8 pontos) foram os canais com maior crescimento. No entanto, apesar dos altos níveis de confiança em fontes de notícias, há uma necessidade urgente de jornalismo crível e imparcial. Preocupações com notícias falsas seguem altas, com 67% dos respondentes preocupados que informações falsas ou erradas estejam sendo compartilhadas sobre o vírus.
Destaca-se também a forte demanda do público por vozes especialistas. As pessoas esperam ouvir informações sobre a pandemia de fontes mais confiáveis: médicos (80%), cientistas (79%) e autoridades nacionais de saúde (71%).
ONGs, que viram um aumento de quatro pontos na confiança, estão também sob pressão para agirem: para cuidarem daqueles que precisam de apoio, arrecadar dinheiro para o alívio da pandemia e para ajudar a coordenar esforços locais para ajudar os membros mais vulneráveis de nossas comunidades. Respondentes em sete dos 11 mercados estudados acreditam que as ONGs locais não estão preparadas para lidar com a crise, incluindo a Alemanha, Estados Unidos e Canadá.
Momento de acerto de contas para os negócios
Enquanto empresas viram um aumento de quatro pontos na confiança, atingindo 62%, a pandemia expôs diversas áreas de profunda preocupação: metade das pessoas acredita que empresas estão agindo mal, muito mal ou completamente falhando em colocar pessoas a frente dos lucros; apenas 43% acreditam que companhias estejam protegendo seus colaboradores da Covid-19 de forma satisfatória, e 46% não acreditam que empresas estejam ajudando fornecedores menores e clientes comerciais a se manterem. Além disso:
- apenas 38% acreditam que empresas estejam indo bem ou muito bem em colocar pessoas antes dos lucros;
- apenas 39% acreditam que empresas estejam indo bem ou muito bem em proteger a saúde financeira de seus funcionários e garantindo seus empregos;
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apenas 38% acreditam que empresas estejam indo bem ou muito bem em ajudar pequenos fornecedores e clientes comerciais a permanecer no mercado, estendendo crédito ou aumentando prazos de pagamentos.
O fraco desempenho dos negócios durante a crise da Covid-19 é visto ainda mais na avaliação sem brilho dos CEOs. Menos de um em cada três entrevistados (29%) acredita que CEOs estejam fazendo um excelente trabalho respondendo às demandas impostas pela pandemia em comparação a cientistas (53%) e líderes do governo (45%). Para aumentar a confiança, empresas devem focar em soluções, não em vendas, com respondentes pedindo que o setor privado atue em colaboração com concorrentes, redefinindo os objetivos de suas companhias para combater a epidemia e alterando suas produções atuais para a produção de máscaras, respiradores e outros itens em falta devido à crise.
As empresas estão sendo chamadas a demonstrarem capacidade e integridade – os principais componentes da confiança. À medida que o foco muda para a reabertura da economia, as empresas devem deixar o “banco traseiro” que assumiram em relação ao governo nos últimos três meses e se juntar a ele para traçar os próximos passos.
Em direção ao novo normal
O público espera ver uma forte parceria entre governos e empresas para trazer as pessoas de volta ao trabalho e revitalizar a economia. Saúde e segurança são primordiais. Mais de dois terços dos respondentes (67%) esperam que salvar vidas seja priorizado em relação a salvar empregos, e 75% afirmam que CEOs devem ser cautelosos ao fazer suas empresas voltarem ao normal, mesmo que isso signifique esperar mais para reabrir escritórios.
Acima de tudo, são CEOs que devem demonstrar liderança pública. As empresas devem assumir a perda de empregos relacionada à automação provendo mais qualificação e treinamentos, tornar preços de produtos acessíveis para lidar com a desigualdade e o desemprego, tornar as cadeias de suprimentos sustentáveis e inclusivas para pequenas empresas e serem uma fonte de informações factuais e imparciais para que seus funcionários compartilhem com a comunidade.
Apesar das crises econômicas e de saúde, as pessoas estão notavelmente otimistas de que mudanças positivas surgirão a longo prazo. Mais de dois terços dos respondentes acreditam que a pandemia irá resultar em melhorias valiosas na maneira como trabalhamos, vivemos e tratamos uns aos outros. Cabe agora às quatro instituições – governo, empresas, mídia e ONGs – cumprir as expectativas e construir um sistema mais resiliente para o futuro.