Recentemente finalizamos o trabalho de campo com 14 mil entrevistados em 14 mercados - incluindo Brasil e México na América Latina -, que avalia a confiança nas instituições para combater a maior ameaça que enfrentamos hoje - a emergência climática. Como vimos em Glasgow durante a COP26, a 26ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima, os líderes empresariais estão assumindo compromissos para adaptar suas cadeias de abastecimento, melhorar sua oferta de produtos e reduzir seu impacto climático. Por outro lado, nosso Relatório Especial Edelman Trust Barometer 2021: Mudanças Climáticas revela um profundo ceticismo sobre o cumprimento dessas promessas pelas empresas. Globalmente - e na América Latina -, apenas o governo é visto como instituição com o poder de promover mudanças. Isso reflete uma percepção que vimos no Edelman Trust Barometer 2020 em torno do enfrentamento a COVID-19 – diante de crises globais, as pessoas esperam primeiro por ações do governo.
GOVERNO
À medida que o mundo sente os efeitos das crescentes alterações climáticas, como inundações e incêndios florestais, descobrimos que a expectativa é de que o governo (33% no Brasil; 57% no México) lidere ações climáticas, vários pontos acima das empresas (21% no Brasil; 41% no México) e ONGs (28% no Brasil; 40% no México). Na verdade, a maioria das pessoas na América Latina (61% no Brasil; 69% no México) afirma que as empresas não farão as mudanças necessárias para evitar as piores consequências das mudanças climáticas, a menos que sejam forçadas a cumprir novas regulamentações governamentais. Além disso, 54% dos entrevistados no Brasil e 63% no México acreditam que as pessoas não farão as mudanças necessárias em seu estilo de vida a menos que sejam forçadas por uma ação do governo.
EMPRESAS
Para as empresas, a confiança está em jogo. Um forte sinal de alerta sobre declarações exageradas é que, de todos os líderes sociais, os CEOs são a fonte menos confiável sobre as mudanças climáticas (41% no Brasil; 44% no México), em nítido contraste com cientistas/ especialistas em clima (84% no Brasil; 87% no México) e “uma pessoa como você” (76% no Brasil; 73% no México). De forma direta, os CEOs partem de uma posição de déficit de confiança quando se trata de apresentar mudanças nas políticas climáticas em seus negócios. Além disso, a maioria dos entrevistados (61% no Brasil; 75% no México) nos disseram que têm problemas com produtos ecologicamente corretos porque custam mais, não funcionam tão bem e são inconvenientes.
A expectativa em relação a empresas é clara, liderar pelo exemplo. Para manter a confiança, as empresas precisam ter metas baseadas na ciência (80% no Brasil; 87% no México) e ter especialistas em clima em posições seniores (79% no Brasil; 88% no México). É necessário que as empresas façam parcerias de forma substantiva, cooperando com concorrentes (89% no Brasil; 88% no México), além de ONGs e governos, para desenvolver soluções para os efeitos das mudanças climáticas (76% no Brasil; 85% no México). A responsabilidade recai sobre as empresas para tornar as marcas ambientalmente corretas mais baratas; 77% dos entrevistados no Brasil e 75% no México afirmam que não deveria caber a eles pagar mais por soluções amigáveis ao clima. Há grandes recompensas para as empresas que atendem a esse padrão mais alto de comportamento. A maioria dos consumidores no Brasil (68%) e no México (73%) comprará ou defenderá marcas com base na crença nas mudanças climáticas e mais da metade dos funcionários recomendará a empresa como um lugar para trabalhar (59% no Brasil e no México), enquanto 88% dos investidores (dados globais) dizem que as empresas com um plano “Net Zero” merecem um prêmio.
ONGs
São mais confiáveis em relação a ações de mudança climática (56% no Brasil e 67% no México) em comparação ao governo (39% no Brasil e 44% no México). Mas, a maioria dos entrevistados (66% no Brasil, 64% no México) acredita que as ONGs ambientais terão mais impacto se aumentarem a colaboração com as empresas, ao invés de serem mais agressivas em responsabilizá-las.
MÍDIA
A mídia tem um papel vital, mas a politização do debate climático neutralizou essa fonte tradicional de informação de qualidade que possibilita a mudança de comportamento. Mais da metade dos respondentes afirma que não consegue encontrar informações confiáveis sobre as mudanças climáticas (57% no Brasil e 51% no México).
Isso é importante no contexto de nosso estudo, em que descobrimos que mais da metade dos entrevistados acredita que houve pouco progresso na luta contra as mudanças climáticas (58% no Brasil; 64% no México) e quase metade dos entrevistados acredita que já perdemos a luta (33% no Brasil; 34% no México).