Em decorrência de diversos escândalos envolvendo a relação ilícita entre governos e empresas privadas, a atividade de Relações Governamentais e Institucionais tem ganhado relevância e espaço. Destaca-se, neste sentido, a necessidade de que as empresas criem relações mais transparentes e estruturadas com agentes públicos. O relacionamento interpessoal dá espaço ao relacionamento institucional, embasado pela governança e pela cultura que cerca toda a organização.

Responsável por estabelecer interlocução entre a instituição e as esferas públicas para a defesa de interesses, é imprescindível que as Relações Governamentais e Institucionais passem a atuar de forma conectada com as demais áreas da empresa, agindo sob as mesmas estratégias de negócio e utilizando a mesma narrativa com a qual se comunica com seus demais públicos de interesse.

Da mesma forma, é importante que o processo de engajamento entre o público e o privado adote os valiosos princípios das Relações Públicas. A atividade fornece suporte para a criação de estratégias mais amplas, que compreendem o engajamento de stakeholders para além das esferas governamentais. Em um momento crítico, como o atual, em que a confiança no Governo está fortemente abalada, torna-se ainda mais importante que o processo de defesa de interesses abarque mais do que o público governamental.

Tal fato se reforça a partir de dados apresentados pelo Trust Barometer, estudo realizado anualmente pela Edelman em 28 países. A edição de 2018 apontou que a confiança dos brasileiros nas instituições ONGs, Empresas, Governo e Mídia sofreu queda no último ano. A confiança no Governo, especialmente, registou a maior queda, de 6 pontos percentuais – de 24%, em 2017, para 18% em 2018. 81% dos entrevistados enxergam o Governo como instituição mais corrompida no País.

A defesa dos interesses privados para o desenvolvimento de políticas públicas, portanto, torna-se mais eficaz quando passa pelo engajamento de múltiplos atores – das ONGs à academia, até a imprensa e a própria sociedade, por meio das redes sociais. O campo de intersecção entre as Relações Governamentais e as Relações Públicas é o que denominamos Public Affairs, como explica o artigo de Daniela Queiroz e Thomaz D’Addio neste blog. Os profissionais desta área são capazes de endereçar as questões de cada organização levando em conta todos os stakeholders que devem ser envolvidos no processo de discussão e pressão para influenciar políticas públicas.

No mundo que caminha à velocidade das mídias sociais, das novas tecnologias, das fake news e de um complexo cenário político-social, nunca se fez tão necessário às empresas agir de forma integrada e transparente, firmando parcerias assertivas que atendam a seus interesses e reflitam, ao mesmo tempo, seus princípios e conduta de governança.

Jakeline Pablos integra o núcleo de Public Affairs da Edelman Brasil.